uma lista de mudanças, em novembro!
sobre escrever, ler, aprender, emburrecer, e desistir (tudo sem pressa): uma lista expandida sobre cinco coisas que tenho feito pra ser mais feliz
oi!
quebrando a tradição de listas de realizações de ano-novo [ou insira aqui qualquer marco temporal ou simbólico que você tenha costume de recorrer quando sente que precisa de um empurrãozinho pra mudar], trago hoje uma lista de algumas coisas que tenho feito nos últimos meses e que têm me feito gostar ainda mais da vida.
às vezes sinto que avalio até demais o passar do tempo e a mudança das coisas, não atoa a quantidade de listas, práticas e associações que crio pra isso. mas essa documentação, afirmativa e constante, tem trazido um pouco de sossego pra minha ansiedade. escrever sobre a mudança (e correr, fotografar, documentar e contar histórias), no melhor dos casos, me ajuda a olhar pra impermanência com mais clareza e menos julgamentos do que já olhei. e, no pior dos casos, só me deixa mais em paz mesmo. e se sentir em paz já é tanta coisa.
essa news vai ser uma listinha expandida de algumas coisas que passei a fazer esse ano, algumas novas, e outras que são só mudanças na forma de fazer o que eu já fazia.
sei que ela está chegando pra você no fim de uma quinta-feira da própria quinta-feira do ano que é novembro, mas em janeiro do ano que vem eu vou gostar de conseguir olhar pro que eu mudei hoje.
e sempre é uma hora boa pra mudar.
como ler livros e largar mão do que não quero mais
eu percebo que a lista de realizações e mudanças de todo adulto que ainda não lê sempre é sempre ler mais, e que rola até um sentimento de culpa de parar um livro no meio e começar outro. e aí muita gente para um livro no meio e nunca mais começa outro.
uma prática que tenho de outros anos é a de não me comprometer a ler livros que não quero mais ler. esse ano, fui um pouquinho mais fundo e passei a não me comprometer com nada que eu não quero mais, mesmo.
na próxima edição do distance project, imagino que vou contar que essa prática tem exceções. mas a regra que mais repeti em 2024 foi a de não me julgar (e nem permitir que me cobrassem coerência) por voltar atrás ou simplesmente parar de colocar esforço em algo que eu já quis um dia: se eu deixei de ser a pessoa que um dia quis a coisa, eu não tenho mais compromisso com a coisa. simples assim.
um ponto recorrente na minha lista de realizações passou a ser, então, aprender. qualquer coisa e sempre.
pra tentar te convencer a fazer o mesmo, e se você for dos adultos que não consegue pegar um livro sem um compromisso de ir até o fim com ele, esse guia da gabi abrão, que se parece especificamente até demais (!!) com como tenho lido, pode ser um bom começo:
alternar (ou combinar) romance e não-ficção
ler não-ficção virou meio que meu dois em um do item anterior, porque aprendo sobre qualquer assunto que eu decidir pesquisar, e faço isso enquanto leio. além de defender o fim do compromisso com o livro até que o fim (do livro) os separe, também tenho defendido o fim da monogamia literária.
atualmente, estou no meio de um romance e três livros de não-ficção. isso possibilita que eu tenha sempre um livro pra combinar com os diferentes momentos em que sinto vontade de ler, ao invés de me desanimar de ler um livro por a leitura não combinar com a ocasião (tipo levar um livro muito denso quando só quero descansar lendo na praia, ou levar um livro de capa dura pra uma viagem).
isso obviamente faz a leitura de um livro ser mais demorada, mas quem é que tá com pressa?
corrida e filosofia são meus temas preferidos e sobre os quais eu tô sempre lendo algo, mas quando estava em lisboa, em junho, entrei por acaso na Salted Books e a atendente me indicou Body Work: The Radical Power of Personal Narrative. foi a primeira vez em muito tempo que li sobre escrita narrativa, e em uma abordagem mais estruturada.
além de ter sido legal colocar nome em coisas que já faço quando escrevo, me incentivou a escrever mais. arrisco dizer que ler não-ficção me fez mais leitora e muitas outras coisas mais que eu já quis ser também.
mudar (e revisar) como consumo e os meios em que consumo
há alguns anos parei de seguir contas de notícias no instagram. não vou fazer desse um texto sobre onde tenho consumido cada informação que… informa meu jeito de pensar hoje, mas parte da minha tentativa de ter uma relação saudável com a internet passa por usar cada plataforma de acordo com a função pra qual ela é mantida por quem manda nela. acho que consumir notícias, e tantos outros tipos de conteúdo, em uma plataforma que tem hoje como único propósito a conversão do usuário em consumidor (de estilo de vida, de produtos, de opiniões) é perigoso por motivos que, sozinhos, cabem em uma outra newsletter.
recentemente, e motivada por uma onda de assistir (e escutar, em podcast) séries documentais sobre malucos como Jeffrey Epstein, Kat Torres, e Jeffrey Dahmer, entrei em outra. a de restringir o conteúdo que consumo em momentos de descanso a coisas que não demandam sinapse.
essa sou eu contando que nos últimos meses assisti todas as temporadas de love is blind disponíveis até hoje. e me fez muito bem, obrigada.
de volta pra internet, tenho passado mais tempo na substack e me interessado pela comunidade de escritores da plataforma. tenho aprendido um tanto nos buracos de coelho que me enfio aqui.
a lê, a amiga responsável por eu ter criado a moving trucks, fez uma curadoria de newsletters outro dia e, além de ter começado a acompanhar várias, também comecei a me aventurar no meu algoritmo. tenho cruzado com textos preciosos, como esse trecho de uma das indicações da lê, a gisela’s hottest takes:
Porque a capacidade de amar pode ser a conquista culminante da consciência e a consciência, a conquista culminante do universo — porque o mistério do universo sempre excederá o alcance da consciência forjada por esse mistério. O amor, no sentido mais amplo, é uma questão de entrega ativa. Entrega ao mistério.
tenho acompanhado a milk fed quase diariamente, e gostei muito de “thoughts on aging and existentialism” em especial, mas recomendo toda a news.
estou gostando de ler em tantos formatos diferentes, tem sido um jeito gostoso de passar meu tempo online. e acabo sempre aprendendo alguma coisa nova ou pensando alguma coisa que ainda não tinha pensado antes.
escrever em público - e crescer também
acompanhar criadores de conteúdo e escritores no substack também tem me dado mais coragem pra explorar minha própria escrita e experimentar mais essa forma de me comunicar. no meio desse ano, comecei um projeto (que idealizei em minutos e imediatamente contei pra todo mundo em uma tarde de domingo em casa), logo que decidi que correria mais uma maratona esse ano. o distance project, nome que também não foi nada elaborado, veio de um pensamento rápido sobre o speed project, que é um projeto de ultramaratonistas que tenho amado acompanhar.
a periodicidade foi um jeito de me manter constante na escrita e no contato com uma comunidade que tem crescido por aqui (foram 16 emails nessa caixa de entrada aí!), e olhar pro que aprendi a cada semana do processo com atenção enquanto escrevo sobre ele me demandou uma presença que eu nunca tive antes, em meio a outros processos que já vivi.
e acho que o principal, pra além da conversa (que tem sido transformadora de formas que tenho tentado articular) foi que a escrita (ou os escritos?) não me deixou distorcer os baixos dos altos e baixos dos últimos meses. vivendo os processos no automático e sem essa revisão periódica, os baixos podem parecer muito mais baixos do que realmente são.
assim como correr, escrever me ajuda a botar tudo em perspectiva.
sobre fazer isso na internet:
sempre defendi que “pessoas normais” como eu compartilhemos nossas coisinhas online, e sigo fazendo. a Benedicte, uma amiga virtual que me ajudou a chegar em uma das conclusões mais transformadoras sobre a maratona em 01 unidade de conversa, também coloca minha posição sobre ser vulnerável em público em palavras melhor do que eu mesma:
em português: “não tenha medo de ser visto tentando. seu processo não precisa ser perfeito pra valer ser compartilhado. compartilhe o imperfeito, cresça em público. eu sei que pode ser estressante, mas você não sabe quem você vai encorajar, inspirar, e motivar. o propósito de alguém pode se basear em você sendo vulnerável, em você compartilhando seu processo… então, se você não estiver fazendo por você, faça por alguém que possa estar precisando disso. não tenha medo de ser visto tentando. é aí que toda a mágica acontece.”
abandonar a pressa, mesmo (e principalmente) quando ela é só uma sensação. aprender a diferenciar.
recentemente aprendi que um dos pilares das longas distâncias é o sono. nos últimos quatro meses, todo o sábado à noite eu desativei meu despertador e nada mudou. mas isso foi uma coisa boa.
no ciclo pra maratona de montanha, meus treinos passaram a ser mais em grupo e com hora marcada. na entrada da Floresta às 6h30. passei então a ter hora pra dormir e acordar todos os dias, chegando às 8h por noite que, tenho visto, é realmente um luxo invejado na nossa querida modernidade.
isso realmente impactou na minha performance, mas logo comecei a sentir falta da autonomia de escolher o que fazer com as minhas manhãs - um benefício do trabalho remoto e quase sempre flexível que tenho e valorizo mais que todo o resto, até. então, quis negociar.
me restaram os domingos.
acontece que depois de regular o tempo de sono seis noites por semana, nosso corpo tende a acompanhar na sétima. eu raramente consegui dormir até tarde aos domingos. acordar sem despertador acabou sendo mais sobre tirar de mim a sensação de ter hora pra alguma coisa do que sobre dormir mais, e me ajudou a notar que não ter pressa, mesmo simbolicamente, me deixa feliz.
a mudança do despertador me levou a outras mudanças mais conscientes e concretas em relação a como lido com meu tempo (como, por exemplo, ter aprendido que me planejar direito me poupa pressa e ansiedade antes de sair de casa), e a perceber que planos mais espontâneos são meus preferidos, se eu puder escolher optar por eles.
ainda não consegui parar pra contar quantas áreas diferentes da minha vida essa mudança afetou. mas sei que foram muitas.
ter mudado até virar uma das pessoas mais pacientes que conheço fez de mim alguém que tá sempre tentando se dar mais tempo, sempre buscando desacelerar. fico curiosa sobre o que isso vai fazer por mim com o passar dos anos ou se essa característica, que não nasceu comigo mas que agora existe aqui, vai me atrapalhar um dia (se em algum momento eu virar também a pessoa mais devagar que conheço).
a parte boa é que, pra essa versão de mim que não tem pressa, dizer que só o tempo vai dizer sobre as mudanças que hoje eu gosto é uma notícia que eu tive que mudar muito pra receber bem.
e ainda bem que eu mudei.
me conta se você tem uma (ou várias) listas de mudanças (ou seja lá como você chama suas listinhas) também?
um beijo,
mari
amei o conteúdo!